domingo, 18 de agosto de 2013

Sobre a fluência em uma língua estrangeira

Ambientação: estou realizando um ano da minha pesquisa de doutorado nos Estados Unidos, após ter recebido a bolsa de doutorado sanduíche da Capes. Espero que o relato a seguir seja, ao mesmo tempo, reflexivo, útil e inspirador, em que pese sua origem em minha experiência pessoal. Especificamente, trato da sensação fantástica que é perceber a melhora significativa na fluência em Inglês.

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O que é fluência em uma língua estrangeira? Sinceramente, não sei e não tenho formação técnica para explicar esse fenômeno. Tudo o que posso dizer é que hoje senti uma espécie de integração com o meio, que me fez perceber o quão importante para o nosso crescimento acadêmico e humano é um estágio de pesquisa no exterior.

Posso dizer, em primeiro lugar, que é uma sensação sutil, porque desde minha chegada, há pouco mais de três meses, tenho conversado em inglês com colegas de faculdade e/ou em pequenas conversas cotidianas. Senti, como toda pessoa que não tem o Inglês como língua materna, ausências de vocabulário, que teimam em vir em minha mente palavras em Português nas horas erradas e que, mesmo quando me esforço para falar o melhor Inglês possível, cometo aqui e ali alguns erros de gramática. O fato é que sempre volto para casa, penso alguns dias sobre as conversas que tive, em como eu poderia ter construído certa frase de modo gramaticalmente mais correto, treino a pronuncia correta das palavras, busco termos no dicionário e/ou na internet. Some-se a isso que, para o bom do desenvolvimento e conclusão de minha pesquisa de doutorado, tenho obviamente lido e fichado livros em Inglês.

Considero que o aconteceu de diferente hoje, quer em relação ao meu estudo formal em Inglês, quer em relação aos meus primeiros dias no exterior, foi a percepção da melhora em minha fluência, ou seja, que os assuntos sobre os quais queria tratar estavam bem representados por minhas palavras, que eu praticamente não pensei em Português para construir frases. O que posso dizer é que essa é uma sensação fantástica, algo próximo de um sentido de familiaridade, de integração com um meio que, até então, parecia estranho e mesmo um pouco assustador. Até certo ponto, é superar diferenças, encontrar uma porta de acesso ao desconhecido.

Então, em segundo lugar, a fluência em uma língua estrangeira parece-me ser também uma experiência de empoderamento. Linguístico, claro, mas principalmente humano, porque senti que parte de minhas ideias, que de certo modo pairavam latentes devido à falta de vocabulário (comparativamente com a minha língua materna), hoje puderam ser ouvidas e, espero eu, entendidas por meus ouvintes. Pude ser, assim, um pouco mais eu mesma, no sentido de que tratei tanto de assuntos sobre os quais venho estudando e pesquisando, sobre notícias do Brasil e do mundo, assuntos sobre os quais falo naturalmente em Português, mas que pareciam estar cobertos por uma barreira invisível que hoje, se não se dissipou totalmente, tornou-se ao menos mais translúcida.

Finalmente, queria dizer que a sensação de fluência é extremamente estimulante. Faz-me pensar como eu gostaria de ter morado/estudado no exterior quando era criança ou adolescente, para que hoje eu pudesse apresentar a mesma fluência não em uma língua estrangeira, mas em várias línguas estrangeiras. Formalmente, estudei não apenas o Inglês, mas também Espanhol, Francês e Alemão (e um pouco de Japonês), mas percebo que a diferença entre o estudo formal e isto que chamei de sensação de fluência está em que, independente dos diferentes backgrounds culturais de seus ouvintes, é possível fazer suas ideias serem ouvidas e entendidas, é possível também entender os outros e, quem sabe, perceber e entender um pouco melhor sobre si mesmo. Não é apenas ter lido sobre o fenômeno do bilinguismo, mas vivenciá-lo, quer pelo trânsito em diferentes mundos (entre o seu “mundo mental” e o do outro, entre o seu entorno cultural e o de outro país) quer pela “criação” de um mundo comum sobre o que se fala.

O que posso dizer para os meus amigos de pós-graduação que ainda não passaram pela experiência de estudo no exterior é que essa sensação de enriquecimento linguístico e humano apresentado pela fluência em uma língua estrangeira é muito interessante!

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