quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Palestra na ANPOCS: A imagem do desenvolvimento da ciência, Parte 2

Caros, em primeiro lugar, peço desculpas pela demora em postar a segunda parte da minha palestra. Espero que aceitem a justificativa de que estive realmente muito ocupada, ou que eu planejei mal o meu tempo. De qualquer modo, esta postagem é uma continuação da Palestra na ANPOCS: A imagem do desenvolvimento da ciência, Parte 1, que pode ser acessada e lida conforme o interesse de cada um. Naquela primeira oportunidade, apenas contextualizei de modo geral o evento em que a minha palestra se inseria, apresentei a proposta geral da mesma, porém deixei questões relativas propriamente ao conteúdo da palestra para esta segunda parte. Uma informação importante é que o título completo da apresentação que me coube é A imagem do desenvolvimento da ciência: uma abordagem kuhniana da atividade científica e foi ministrada nos dias 25 e 26 de outubro de 2010 em Caxambu, Minas Gerais.
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Como o subtítulo da palestra sugere, o objeto desta apresentação são as ideias sobre a atividade científica de Thomas S. Kuhn (1922-1996), que, físico de formação, passou a se dedicar à história e à filosofia da ciência. Kuhn, autor que escreve suas obras no ainda bastante próximo século XX, obteve a sua graduação em Física (Harvard) no ano de 1943, obtendo na mesma instituição a sua pós-graduação também em física entre os anos de 1946 e 1949. Já em 1949 começou a dar aulas para a graduação sobre ciência. Em 1957 escreve a sua primeira obra propriamente de história da ciência, chamada A revolução copernicana. Mas, é no ano de 1962, que Kuhn publica a obra que terá um grande impacto e repercussão nos meios acadêmicos, que é A estrutura das revoluções científicas (doravante Estrutura). Kuhn afirma que a ideia de escrevê-la surgiu 15 anos antes de sua publicação, período, portanto, em que realizava a sua pós-graduação. O resultado das pesquisas que Kuhn realizou levou-o a mudança drástica nos seus interesses da física para a história da ciência e da história da ciência para a filosofia da ciência.
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Kuhn dialoga na Estrutura com o que denomina o modo tradicional de análise da ciência, que sugere que o desenvolvimento da ciência ocorre por acumulação de conhecimento e busca um método único capaz de demarcar o conhecimento que pode ser legitimamente considerado científico. Desta maneira, esta perspectiva tradicional da ciência, recorre ao passado da mesma apenas na medida em que é útil para justificar o estado atual de leis e de teorias científicas, compreendendo que os conhecimentos e técnicas de produção da ciência contemporâneos são melhores dos que os do passado. Exemplo deste modo de analisar a ciência é a história que visa os precursores, ou seja, aqueles autores do passado que influenciaram direta ou indiretamente ideias contemporâneas. Kuhn considera que, na verdade, o modo tradicional de análise da ciência, comete o equívoco de retirar teorias científicas e seus autores dos seus contextos de formação e, portanto, trata a ciência de uma maneira a-histórica. O estudo bibliográfico da ciência realizado por Kuhn mostrou justamente que esta perspectiva era no mínimo parcial.
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A parcialidade do modo tradicional de análise da ciência estava em que, segundo Kuhn, o desenvolvimento da ciência apresenta não apenas momentos de acumulação de conhecimento, mas também momentos de ruptura com esta acumulação. E, justamente estes momentos de ruptura, ocorrem devido a mudança de métodos de pesquisa científica, conceito este que será alargado por Kuhn que, conforme veremos a seguir, considera que a ciência possui paradigmas e não apenas uma metodologia segundo a qual investiga seus objetos. Assim, Kuhn propõe a chamada nova história da ciência, que defende momentos de acumulação e de ruptura de conhecimento, bem como procura recolocar a ciência no tempo e no seu contexto próprio de realização, ou seja, procura compreender o desenvolvimento da ciência na sua história. Para realizar esta nova história da ciência Kuhn cria novo conjuto de conceitos a respeito do que é a ciência e de como ocorrem as mudanças na mesma, procurando a chamada história real, no sentido daquilo que efetivamente aconteceu.
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Por mais que Kuhn discordasse das conclusões da história tradicional da ciência, ele reconhece que ela trabalha com determinadas fontes para a partir delas fazer afirmações sobre a ciência. Kuhn observa que as fontes que normalmente são utilizadas pela história tradicional são os manuais científicos, os textos de divulgação científica e as obras filosóficas. Vale dizer, que nestas três formas de apresentar a ciência possuem objetivos eminentemente persuasivos e pedagógicos, apresentando um conceito de ciência diferente daquele que surge do estudo histórico mais profundo da ciência. No caso dos manuais científicos, como toda obra que visa formar especialistas em determinada área, eles se concentram nas teorias contemporâneas. Os textos de divulgação, por sua vez, precisam elaborar para uma linguagem familiar, teorias que são extremamente especializadas. E, as obras filosóficas, partem de generalizações como aquelas elencadas da acumulação de conhecimento e de que a ciência de todas as épocas podem ser reconhecidas pelo método que utilizam, sendo este sempre o mesmo.
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Por sua vez, a nova história da ciência, mesmo que fazendo uso das mesmas fontes, as encara a partir de perspectiva diferente. Em primeiro lugar, considera importante a prática científica efetiva. Em segundo lugar, dota a ciência de fases de desenvolvimento que podem ser de ciência normal ou de ciência extraordinária, em ambos os casos apontando a importância dos paradigmas para a compreensão da ciência. E, em terceiro lugar, afirma a existência de revoluções científicas, ou seja, momentos em que há mudança brusca dos pressupostos segundo os quais os cientistas realizam a sua atividade de pesquisa. Podemos adotar como primeira conceituação do termo "paradigma", que ele é um conjunto de suposições e padrões aceitos com base em uma realização científica importante e que determina a prática científica posterior. Kuhn oferece como exemplo de paradigma a Óptica e a Mecânica newtoniana. Porém, conforme veremos a seguir, Kuhn considera que um ramo do saber não nasce uma ciência, ele, na verdade, se faz ciência ao longo de sua história. É preciso, portanto, observar a transformação de um estado para o outro.
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Kuhn afirma que existem fases do desenvolvimento da ciência, que vão desde o período pré-paradigmático, ou seja, em que observamos a discussão sobre os objetos, os métodos e os problemas de uma determinada disciplina. No caso, ainda não se tem propriamente uma ciência, porque falta o consenso em torno do objeto de investigação. Neste sentido, é possível afirmar que o período paradigmático é, segundo Kuhn, caracterizado por pluralidade de escolas, por discussão e discordância sobre os fundamentos da ciência, por dificuldade de determinar as observações relevantes e, finalmente, por discordância sobre teorias, métodos e instrumentos de pesquisa. Assim, o que marca qualitativamente a passagem de uma disciplina para uma ciência propriamente dita é a adoção de paradigma único, a partir do qual os cientistas verão os seus objetos de estudo, serão capazes de realizar as suas pesquisas e de comunicarem entre si os resultados de modo não-problemático. Outra característica importante do período paradigmático é, contrariamente, a possibilidade de ocorrência das revoluções científica.
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As revoluções científicas, então, podem ser compreendidas como aqueles momentos em que a ciência substitui um paradigma por outro, o que leva a conjunto distinto de supostos da investigação científica. A partir da aplicação contínua de um paradigma, os cientistas podem obter situações não abarcadas pelo mesmo, ou seja, como se a realidade não se comportasse do modo como prevê a teoria, fazendo com que aos poucos vá se perdendo a confiança em relação à capacidade do mesmo de fazer com que a pesquisa realmente obtenha resultados. Kuhn denomina o momento de desconfiança em relação ao paradigma e da busca de solução de problema aparentemente insolúvel a partir do mesmo de crise. Semelhantemente ao que ocorre nos períodos de crise política, os debates profundos sobre o paradigma que ocorrem no período de crise, preparam os cientistas para a busca e possível adoção de um novo paradigma. Caso efetivamente a comunidade científica decida que outro paradigma é melhor para a pesquisa e o adotem como padrão, estaremos diante de uma revolução científica.
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Evidentemente, alguns problemas podem ser colocados para a proposta kuhniana de nova história da ciência. Considero que a mais importante seria a seguinte: o conceito de paradigma se aplica igualmente para todas as ciências? Levando em consideração, neste caso, as ciências humanas, sociais e exatas. Exemplo relevante desta discussão seria nos perguntarmos se a Sociologia é caracterizada por um paradigma único e, por conseguinte, é uma ciência madura em sentido kuhniano, ou se ela é caracterizada por uma pluralidade de escolas e, deste modo, uma disciplina ainda em estado pré-paradigmático para Kuhn. Apesar deste questionamento, gostaríamos que ao final desta apresentação, algumas ideias fossem levadas em consideração como relevantes na proposta kuhniana: a primeira é sem dúvida a mais importante, que é justamente aceitarmos a ideia de que a ciência precisa ser analisada como um objeto histórico, estando sujeita a mudanças a depender do período considerado. A segunda questão é que a educação paradigmática torna predominante certos modos de realizar a pesquisa científica, consequentemente, qualquer mudança na imagem de ciência predominante passa pela análise crítica de tradições anteriores.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Comunicação XIV ANPOF - Thomas Kuhn e a historiografia não-factual da ciência




A comunicação a seguir foi apresentada em 07 de outubro de 2010, no evento XIV Encontro Nacional da ANPOF - Associação Nacional de Pós-graduação em Filosofia (Águas de Lindóia, São Paulo). Esta comunicação é resultado do estudo de mestrado defendido no primeiro semestre de 2010, que realizei sobre a historiografia da ciência de Thomas Kuhn. O título completo da minha dissertação de mestrado em filosofia é O modelo da historiografia da ciência kuhniano: da obra a estrutura das revoluções científicas aos ensaios tardios e está totalmente disponível em versão digitalizada no seguinte endereço eletrônico:
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A apresentação a seguir está dividida em três partes: 1) Apresentação das linhas gerais da historiografia da ciência de Thomas Kuhn; 2) A analogia que Kuhn estabelece entre a atividade do cientista e a atividade do historiador em suas ideias historiográficas; 3) A questão da carga teórica e como ela é aplicada analogamente ao caso da história da ciência; e, finalmente, partiremos para as nossas considerações finais.
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Como o título de nossa apresentação já pode elucidar, nossa perspectiva é teórica. E, de modo ainda mais preciso, procuraremos mostrar que é possível retirar dos escritos kuhnianos uma teoria sobre a atividade histórica da ciência. Neste sentido, faremos, então, um metadiscurso, que se apoia nos textos de Kuhn, em especial A tensão essencial e A estrutura das revoluções científicas, para mostrar que este autor tem uma teoria da história que embasa sua análise do desenvolvimento da ciência. Porém, a proposta desta comunicação é mais modesta do que mostrar todo o sistema historiográfico deste autor, por pretendemos nos concentrar em um dos pontos da historiografia da ciência kuhniana, ou seja, especificamente quando a que este autor informa sobre a relação do historiador da ciência com as fontes que tem a sua disposição para realizar a narrativa histórica.
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Antes de adentrarmos propriamente no conceito e caracterização de história factual e não-factual, gostaríamos de contextualizar nossa análise. Nesta contextualização, apresentaremos a distinção que Kuhn observa entre as disciplinas história, filosofia e ciência, posteriormente nos concentrando na relação entre história e filosofia, haja vista a importância desta relação para a atividade do historiador da ciência. Sendo assim, no texto As relações entre a filosofia e a história da ciência (A tensão essencial, 1989) Kuhn informa que iniciou sua reflexão sobre as diferenças e semelhanças entre as disciplinas a partir da sua experiência docente em turma formada tanto por alunos da graduação em história, como por graduandos em filosofia. Observou que mesmo que seus alunos estivessem empenhados em ler e em comentar sobre os mesmos textos de história da ciência, sua postura e tipo de relação com o autor e com a obra era suficientemente distinta para que Kuhn visualizasse diferenças disciplinares, somando a estas a sua experiência pessoal como graduando e pós-graduando em física.
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Assim, considera que existem pelo menos quatro aspectos em que estas três disciplinas (física, história e filosofia) se diferem, sendo eles: o objetivo das disciplinas, o método de investigação, a composição de textos e, finalmente, o papel que a crítica desempenha em suas atividades. Nos concentrado agora nas relações entre a história e a filosofia, veremos que, para Kuhn, a história da ciência tem como objetivo a narrativa dos eventos do passado. Porém, não apenas isso, pois a narrativa deve tornar coerente a sucessão entre os eventos particulares. Quanto ao aspecto da metodologia, Kuhn observou que historiadores apresentam maior fidelidade aos textos que analisar, representando de modo mais fidedigno as ideias do autor, bem como o contexto em que tais ideias foram produzidas e mesmo as influencias anteriores e posteriores à produção da obra. Finalmente, outro ponto que vale a pena destacar é que, no caso da história, a composição dos textos é baseada em investigação prévia, sendo esta a compilação, a organização cronológica e a leitura e interpretação das fontes. Deste modo, quando o historiador produz o seu texto, qualquer fonte nova pode trazer grandes repercussões, levando a que o historiador reescreva o seu texto em nome da coerência entre os eventos apresentados.
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Por outro lado, a filosofia tem como objetivo característico de sua atividade a realização de generalizações, que, diferentemente das generalizações históricas, pretendem alcançar o grau de universalidade, ou seja, ser aplicáveis para o passado, o presente e o futuro. Além disso, é marca da metodologia desta disciplina a identificação das lacunas teóricas dos textos analisados, fazendo com que haja menos concentração nas próprias ideias do autor, pela concentração maior nas falhas de seu raciocínio. Desta maneira, a composição dos textos filosóficos, segundo Kuhn, surge quando o filósofo apresenta respostas àquelas lacunas encontradas no texto. Elucidando Kuhn, que o filósofo não realiza o mesmo tipo de atividade de pesquisa prévia à escrita de seu texto, quando comparado à análise das fontes históricas pelo historiador. Por fim, vale ressaltar também o papel que Kuhn atribui quase que exclusivamente para a filosofia, que é a crítica. Não que este autor considere que esta atividade seja exclusivamente filosófica, porém, observa que tanto na história, quando especialmente da física, a crítica não é bem vista pelos pares, ou seja, pelos outros historiadores e cientistas. Os primeiros por já se compreenderem desde o início realizando uma pesquisa “a partir do zero”, ou seja, constroem a narrativa coerente com contato direto com os textos. E, os segundos, por compreenderem a sua atividade fundamentalmente como contribuição pontual para o conjunto de conhecimento que a ciência apresenta e, poderíamos acrescentar, imaginando que a crítica provoca atraso no progresso contínuo da pesquisa científica.
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Em que pese os possíveis problemas desta caracterização kuhniana, que visualiza uma separação clara entre objetivo, metodologia, composição de textos e a função da crítica, Kuhn defende que história e filosofia permaneçam disciplinarmente distintas, vale dizer, com seus próprios departamentos, formas de legitimação do conhecimento produzido, além, é claro, dos quatro aspectos já abordados. Desta forma, Kuhn considera que o diálogo entre história e filosofia da ciência deve ser interdisciplinar e não intradisciplinar. E, nesta sua caracterização, está preocupado não apenas com o modo próprio de historiadores e filósofos desenvolverem as suas atividades, mas também que os graduandos de história e filosofia sejam treinados em seus próprios objetivos, métodos e formas de composição de textos. Assim, mesmo que uma mesma pessoa seja capaz de redigir textos históricos e filosóficos ela, na verdade, estaria atuando ora como historiadora e ora como filósofa.
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Passando agora para a segunda parte de nossa apresentação, trataremos da analogia que visualizamos quando Kuhn trata da história da ciência. Ou seja, consideramos que quando este autor trabalha a historiografia da ciência, ele assume, implicitamente, uma analogia entre a atividade científica e a atividade do historiador. A questão de fundo que informa esta analogia é o que em epistemologia da ciência costumeiramente é chamada de carga teórica da observação, que, por sua vez, é a consideração de que mesmo nas ciências que possuem objetos empíricos, tais com a física (em algumas de suas manifestações), o cientista nunca tem um acesso direto aos fatos, pois mesmo quando através de instrumentos realiza verificações ou testes de suas hipóteses, ele, na verdade, aplica diversas camadas teóricas sobre os “fatos”. Sendo assim, dentro de uma matriz de análise neo-kantiana (Kuhn localiza sua matriz de análise nesta corrente epistemológica) em que se está epistemologicamente consciente de que todo conhecimento dos objetos é mediado, não se tendo acesso imediato às coisas em si, sabe-se, desde logo, que mesmo as ciências empíricas não lidam com fatos puros.
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Deste modo, acreditamos que em sua análise da historiografia da ciência, Kuhn projeta esta ideia epistemologicamente informada pelo neo-kantismo, que em tese seria apenas aplicável para o contexto da produção de conhecimento científico, para a sua análise da atividade historiográfica. Do mesmo modo que o cientista, poderíamos afirmar, então, que o historiador também não lida com fatos puros, mas antes que as fontes de que se utiliza na sua narrativa, sejam elas texto, fragmentos arqueológicos, testemunhos etc, estão sempre sujeitas à interpretação. Aprofundando a analogia, vemos ainda que tanto a ciência, quando a história, nesta perspectiva kuhniana, postulam objetos independentes da teoria, ou seja, em que pese seus respectivos objetos de investigação estarem sujeitos à interpretação, existem limites para esta aparentemente ilimitada capacidade de construção. Kuhn, apresenta a ideia de que o mundo, ou a natureza, que é o objeto próprio da pesquisa científica, nem sempre se adéqua às prescrições teóricas que são feitas e, além disso, por vezes pode surpreender o cientista, com elementos naturais que nem sequer eram conhecidos (penso aqui em especial no exemplo do ornitorrinco, fornecido por Kuhn em O caminho desde a estrutura).
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Um terceiro ponto em que a analogia entre a história e a filosofia pode ser observada é o de que ambos realizam interpretação da linguagem. Vale dizer que, primeiramente, suas atividades são elas próprias erigidas por uma linguagem compartilhada entre os praticantes. No caso especial da ciência, Kuhn afirma que este aprendizado ostensivo dos conceitos e elementos de linguagem é uma etapa imprescindível para o aprendizado do próprio paradigma. O mesmo poderia ser dito no caso do historiador, que adentra em uma disciplina já constituída, a que chamamos história, que apresenta também seus próprios padrões linguísticos e subtrai legitimidade de discursos que não se adéquam a certa tradição narrativa. Entretanto, um ponto que teríamos mais reserva em afirmar a analogia entre a história e a filosofia da ciência, seria o de que o conceito que Kuhn observa de comunidade científica seria aplicável ao caso da história. Não apenas por causa do debate ainda não finalizado sobre a cientificidade da história, mas especialmente por duas consequências: a primeira, seria a de engessar a narrativa histórica em paradigmas, ou seja, aplicar a ideia de que mesmo a história deve apresentar modelo padrão de narrativa; e, a segunda, seria trazer para a história a mesma intolerância que Kuhn observa em relação às novidades para a ciência, sendo assim, atribuiríamos a normalidade da atividade científica, para o contexto da história. Não encontramos a princípio fundamentos teóricos para afirmar este ponto de que o conceito de comunidade científica seria também aplicável ao contexto da história, em que pese nos pontos anteriores, de que história e ciência não lidam com fatos puros, que postulam objeto independente da teoria e de que realizam interpretação da linguagem, nos parecem plenamente plausíveis.
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Já nos encaminhando para a terceira e última parte de nossa apresentação, gostaríamos de citar um trecho da obra La ciencia y el relativismo de Larry Laudan, em que este autor afirma sobre o relativismo, incluindo neste conjunto a epistemologia que informa a obra de Kuhn, que mesmo a evidência empírica aparentemente não problemática está carregada de teoria. E, mesmo as escolas epistemológicas que debatem com o relativismo, vale dizer, o positivismo, o realismo e o pragmatismo, admitem que a observação é carregada de teoria. Nos atendo exclusivamente neste ponto de concordância entre estas diferentes escolas epistemológicas, poderíamos supor que as críticas kantianas quanto à possibilidade do conhecimento direto das coisas, é traduzido para o contexto da filosofia da ciência na compreensão de que o evento é sempre interpretado. E, esclarecendo este argumento, introduz a participação direta do sujeito na produção do conhecimento, mesmo naquelas disciplinas mais empíricas.
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Assim, no caso específico da história da ciência, tal com compreendida por Kuhn, o pressuposto de base é de que o historiador não lida diretamente com fatos e, portanto, poderíamos classificar a sua historiografia da ciência como não-factual. Uma vez que mesmo naquelas atividades em que aparentemente o sujeito de conhecimento está mais ausente, por exemplo, na compilação e na escolha das fontes históricas, já está presente o elemento das crenças teóricas do autor e, portanto, a interpretação. No quadro a seguir, podemos visualizar de modo mais patente as ideias que apresentamos, pois, como é possível observar, o historiador (sujeito de conhecimento), está no centro da relação, intermediando fonte e fato histórico. Deste modo, quando realiza a análise das fontes, ele está teoricamente informado. No caso da história da ciência, poderíamos dizer, o sujeito possui um conceito de ciência e preconcebe como esta se realiza internamente (pesquisa) e se relaciona externamente (sociedade, economia, política etc). Além disso, é apenas depois desta atividade de interpretação, que podemos afirmar que os fatos históricos são constituídos, com o cuidado de informar que podem não permanecer os mesmos, ou seja, os fatos históricos são eles mesmos passíveis de interpretação, seja pela influência de descoberta de novas fontes, seja pela discordância de outros historiadores em relação à interpretação anteriormente realizada.
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Resumidamente, e já nos encaminhando para nossas considerações finais, gostaríamos de afirmar que a historiografia da ciência de Kuhn não determina a metodologia mais fina para a história da ciência. Vale elucidar: afirma o relevante papel da interpretação na análise das fontes, mas não se presta a averiguar os critérios desta mesma interpretação ou como os critérios são formados. Além disso, reconhece três pressupostos que direcionam a atividade do historiador da ciência que, por sua vez, dirigem a atividade de seleção, de interpretação e de narrativa com sentido. Sendo que, nesta apresentação, nos concentramos em apenas um destes pressupostos, ou seja, na relação que Kuhn estabelece entre história e filosofia da ciência. Também é necessário relembrar que a matriz neo-kantiana que informa tanto a perspectiva de Kuhn sobre a atividade científica, quando a sobre a atividade do historiador, estabelece uma relação direta entre o objeto de conhecimento (ciência/fonte) e o sujeito de conhecimento (historiador/narrador), de tal sorte que poderíamos dizer que os pressupostos filosóficos implicam em imagem determinada da ciência.

Comunicação III CIFCyT - Continuidade e descontinuidade no progresso

A comunicação a seguir foi apresentada em 06 de setembro de 2010, no evento III Congreso Iberoamericano de Filosofia da Ciencia y de le Tecnología (Buenos Aires, Argentina). Considero que esta é uma primeira abordagem do problema da continuidade aplicada ao contexto da história da técnica. O título completo da comunicação é Continuidade e descontinuidade no progresso: sobre a diferença entre o desenvolvimento científico e o desenvolvimento técnico a partir da perspectiva historiográfica. Espero que apreciem os elementos reflexivos que apresento. Apesar de ter apresentado com slides, ainda não domino a técnica de como disponibilizá-los no blog, desculpem-me.
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Consideremos, em primeiro lugar, que o processo de desenvolvimento histórico nem sempre supõe a ideia de progresso. Deste modo, afirmaremos como progressivo aquele conjunto de eventos do passado que guardam conexão com eventos do presente e que se projetam, pelo menos enquanto tendência, para um futuro. Estando o historiador situado sempre no presente ao narrar eventos que já aconteceram no passado, ele terá que fazer uso de determinadas fontes que apoiem a narrativa que faz, de modo a tornar coerente a sucessão de eventos narrados. No entanto, partindo da perspectiva cognitivamente responsável da filosofia histórica da ciência, devemos levar em consideração que tanto a compilação, a organização e a narrativa expressa serão feitas a partir da percepção que o historiador tem sobre a história. Assim, em segundo lugar, postulamos a relação entre a filosofia e a história da ciência, na medida em que a depender da compreensão que se tenha da ciência e do tipo de desenvolvimento histórico que ela apresenta (aspecto filosófico ou formal), teríamos diferentes modos de narrar a sua história (aspecto histórico ou material).
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Neste sentido, afirmamos que a história, mesmo quando compreendida como progressiva, pode não apresentar uma direção ascendente, tal como, por exemplo, quando supomos que as teorias científicas do presente são melhores que as teorias do passado e, portanto, mais próximas da verdade. Aliás, a ideia de progresso pode comportar pelo menos três pressupostos diferentes quando aplicada ao contexto da história da ciência: (1) progresso científico cumulativo, prescreve um crescimento contínuo, seja pela correção ou pelo acréscimo de observações, de explicações ou de conteúdo empírico às teorias anteriormente dadas na ciência; (2) progresso não-cumulativo, prescreve que o desenvolvimento da ciência ocorre através de rupturas com a acumulação de conhecimento anterior, devido à substituição de teorias ou de paradigmas que regravam a atividade de pesquisa científica; teríamos ainda uma terceira possibilidade que é a ideia de que o progresso científico ocorre ora por acumulação e ora por rupturas, progresso este a que chamaremos de (3) misto. Esta terceira forma de compreensão do progresso científico é, em última instância, uma combinação das duas anteriores, mas que se dão diacrônicamente uma em relação à outra, ou seja, ou a ciência apresentará em um dado período histórico a acumulação de conhecimento ou o seu contrário, deste modo, um momento de ruptura.
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É preciso notar que na opção historiográfica realizada entre compreensão da ciência como progresso cumulativo ou não-cumulativo, subjaz uma série de outras opções historiográficas feitas pelo historiador, consciente ou não de que realiza tais opções. Escolhi para esta apresentação três escolas clássicas da epistemologia científica, nomeadamente o empirismo, o falseacionismo e o relativismo, sendo que para cada uma destas filosofias da ciência, tentei definir quais seriam as opções historiográficas implícitas quanto às fontes, quanto à atividade científica, quanto ao objetivo da atividade científica e quanto à relação que estabelece entre os três elementos anteriores (fonte, atividade e objeto) e o progresso histórico.
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Sendo assim, é possível notar que, partindo das perspectivas empiristas denominadas ingênuas, a fonte da atividade científica é o evento, fato ou fenômeno. Além disso, todo evento é entendido como um dado, ou seja, algo capaz de fornecer por si só conhecimento acerca da natureza. Deste modo, a atividade empregada prioritariamente na pesquisa científica é a observação e os sentidos de um modo mais geral. Assim, o objetivo a que se almeja alcançar com a observação dos fatos que informam conhecimento sobre a natureza é a verdade, pois nesta forma primeira de epistemologia da ciência, ainda não se está questionando a possibilidade de alcançar o conhecimento certo sobre a natureza, acredita-se, portanto, no potencial compreensivo da razão e no potencial informativo da realidade. É possível notar que o principal representante desta epistemologia empirista ingênua é Francis Bacon.
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Quanto à segunda escola epistemológica, ou seja, a falseacionista, ela compreende que a atividade científica baseia-se prioritariamente em hipóteses. É preciso notar aqui a inversão da atenção, pois enquanto no empirismo a atenção está voltada para os fatos e às informações que podemos obter a partir deles, no falseacionismo a atenção está voltado para o método de produção do conhecimento. Nesta epistemologia falseacionista, já está presente a suspeita em relação ao conhecimento direto da natureza, sendo este conhecimento construído de modo indireto através da mediação realizada pelo método científico. Em outras palavras, quanto mais aperfeiçoado o método, mais correto será o conhecimento produzido a partir de sua aplicação. O filósofo da ciência Karl Popper, principal expoente desta epistemologia, parte da crítica do verificacionismo, entendendo que o cientista deve recorrer aos fatos não para confirmar suas teorias, mas para “desconfirmá-las”. Sendo assim, o cientista cria teorias para explicar determinados fenômenos, deduz delas hipóteses (H1, H2, H3 etc) e confronta cada uma delas com fatos. Será melhor a hipótese mais testada, ou seja, aquela que mais resistiu à confrontação empírica. Deste modo, é possível notar que a atividade principal de pesquisa é o teste das hipóteses e, buscando alcançar objetivo aparentemente mais exequível que a verdade, coloca como objetivo mais modesto que aquele a verossimilhança. Assim, a relação que se estabelece entre a fonte, a atividade científica e o objetivo a ser alcançado pela pesquisa, leva a ideia de progresso histórico por meio da superação.
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Finalmente, quanto a terceira e última escola epistemológica que abordaremos em nossa apresentação, temos o chamado relativismo. Muito embora esta caracterização relativista seja tomada pelos próprios representantes desta epistemologia como pejorativa, utilizamos aqui no estrito sentido de que esta epistemologia está localizada no ponto mais extremo da desconfiança em relação à capacidade de a ciência alcançar algo a que podemos chamar uniformemente de verdade, uma vez que observa na sucessão histórica entre teorias, métodos e objetos de investigação cientifica, indício suficiente para afirmar que se é que existe alguma verdade a ser alcançada pela ciência, ela deve ser compreendida de maneira local e historicamente determinada, ou seja, em um grupo, instituição, espaço e tempo singulares, de modo que o que seria verdade para determinado grupo, pode supostamente ser considerado como falso por outro.
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Assim, o relativismo epistemológico aplicado ao contexto científico, considera que tudo o que a ciência faz em sua pesquisa é uma tentativa de aproximação coerente entre a teoria (ou hipótese, ou paradigma) e os fatos (entendido aqui em sentido empírico, uma vez que postula a independência do mundo em relação às teorias científicas). Além disso, a aproximação entre a teoria e o fato é realizada segundo um problema anteriormente dado como legítimo e relevante pelos cientistas. Desta maneira, afirmamos que a epistemologia relativista considera que a atividade específica da ciência é a resolução de problemas, que, na realidade, ocorre tanto na aproximação entre teoria e fato, como no ajuste da teoria ou do paradigma, uma vez que este não se apresente conforme os eventos empiricamente dados. O que seria considerado como hipótese ad hoc para a epistemologia falseacionista, ou seja, a modificação da teoria para melhor se adequar aos fatos, é aqui considerado um procedimento normal da ciência. Portanto, o objetivo da atividade científica para a epistemologia relativista é a coerência entre a teoria e o fato, abandonando em grande medida objetivos que sejam externos à própria atividade científica, o que incluiria a ideia de verdade uniformemente dada para todo e qualquer objeto de investigação. Finalmente, a relação que é possível visualizar a partir da análise da fonte, da atividade e do objeto da investigação científica é tanto a de acumulação quanto a de não-acumulação, a depender de se em um dado momento considerado a ciência se desenvolve por acréscimo ao conjunto de conhecimentos anteriormente dados, ou passa por momento de ruptura em relação aos próprios pressupostos de investigação. Para Thomas Kuhn, o principal expoente desta epistemologia relativista, estes momentos de mudanças dos pressupostos são chamados de revoluções científicas.
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Dados estes elementos que analisamos nas epistemologias empirista, falseacionista e relativista, podemos afirmar que a narrativa histórica da ciência pode ser considerada ou não progressiva, que esta progressão é, por sua vez, compreendida ou como cumulativa, não-cumulativa ou mista, mas, finalmente, a própria escolha entre uma e outra perspectiva sobre o desenvolvimento histórico da ciência supõe outras opções historiográficas, tais como a compreensão do historiador acerca da fonte, da atividade e do objetivo da atividade científica, para melhor compreendermos os pressupostos historiográficos, ou seja, aquela filosofia da ciência que informa (ou mesmo determina) a narrativa dos eventos científicos.
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Passando agora para a segunda parte de nossa apresentação, analisaremos a seguir uma aplicação particular da ideia de progresso científico, que é aquele que podemos observar na história da ciência e na história da técnica. A análise que apresentaremos a seguir é preliminar, porém já aponta para alguns direcionamentos interessantes sobre semelhanças e diferenças entre história da ciência e história da técnica. Sendo assim, seguiremos em nossa apresentação a sequência: 1) História da técnica e continuidade; 2) História e a relação com o tempo; e, 3) Conclusões preliminares.
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A primeira pergunta que nos pareceu interessante na tentativa de aplicar a mesma reflexão sobre os pressupostos historiográficos da ciência à história da técnica é, no caso da história da técnica, a continuidade do progresso seria em relação a que? Esta pergunta, por sua vez, nos remete ao próprio conceito de técnica, que, usualmente, tem sido entendida ou como arte ou ofício, restringindo os objetos à uma das duas opções; ou técnica é compreendida em um sentido mais lato, compreendendo a relação entre esta atividade com o contexto social e a visão de mundo de seus atores. Partindo desta perspectiva mais lata, podemos afirmar que especificamente quanto a compreensão do tempo, elemento essencial para a história, podemos afirmar que existe uma distorção, ou melhor, uma aceleração do tempo da técnica em relação ao tempo social, aceleração esta apresentada por Jüergen Habermas em O futuro da natureza humana.
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Deste modo, podemos identificar que o tempo da técnica está associado às ideias de aceleração e de inovação, dado, por exemplo, a constante pressão de substituição de uma tecnologia por outra, mesmo que a técnica anteriormente aplicada ainda funcione. Exemplo disto é a substituição dos aparelhos celulares por opções mais novas, que muitas vezes trazem maior número de modificações estéticas do que propriamente técnicas. Por outro lado, o tempo social está relacionado com o tempo de legitimação e de compreensão. Porém, aqui enfrentamos um problema marcante ao tratar da técnica, pois a excessiva especialização do conhecimento e o seu patenteamento, muitas vezes prejudicam o acesso deste conhecimento pela sociedade em geral. Muito embora vejamos a dificuldade adicional que estes elementos trazem para a compreensão social das técnicas atualmente utilizadas, consideramos que o esforço para torná-las até certo ponto públicas, é necessário não apenas em termos cognitivos, mas principalmente por ser a sociedade em geral (usualmente denominados como consumidores) os destinatários finais da produção técnica. Sendo assim, considerando o contexto político geral democrático, para que esta aplicação seja considerada legítima o esforço de elucidação não é apenas uma gentileza, mas antes uma obrigação.
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Podemos, finalmente, apresentar dois exemplos de técnicas que fundamentalmente são aplicadas na pesquisa de algumas ciências, mas que fogem quase por completo do conhecimento público, especialmente em relação aos riscos de sua aplicação. O primeiro exemplo, retirado da obra de Habermas referida, é a do Diagnóstico genético pré-implantação, que seria um estágio de desenvolvimento avançado da busca pelo mapeamento e pela influência direta no genoma humano. Segundo Habermas, pessoas que ainda não nasceram e que poderiam ter o seu material genético alterado por conta de decisões de seus pais, perderiam em grande medida a compreensão de sua autonomia, o que teria consequências para a sua autocompreensão como ser livre e responsável por suas ações. O segundo exemplo, retirado da obra de Hugh Lacey em Valores e atividade científica 1, é o da aplicação das sementes transgênicas de trazem grandes impactos sociais, além de ambientais, uma vez que retira a necessária biodiversidade em relação à algumas espécies, por exemplo, a soja, fazendo com que Lacey considere a necessidade de maior pesquisa sobre os riscos desta técnica antes de ela ser efetivamente aplicada em seu contexto social (neste caso, em contraposição ao laboratorial). Assim, no primeiro exemplo, temos consequências destacadamente individuais quanto à aplicação de técnicas sem que haja adesão e legitimação dos seus destinatários e, no segundo caso, consequências sociais.
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Esta distorção, ou diferença de formas de temporalidade, quando analisamos exclusivamente o caso da relação entre o tempo da técnica e o tempo social, deve ser levada em conta pelo historiador da ciência, quando da tentativa de aplicar os mesmos pressupostos historiográficos da ciência para a análise da história da técnica. Além disso, e já nos encaminhando para nossas conclusões preliminares, podemos afirmar pela análise feita que, tanto a história da ciência, como a história da técnica, podem ser compreendidas como contínuas, sendo, portanto, aplicável a categoria historiográfica da continuidade para a história da técnica. No entanto, a continuidade assim considerada se dá através de uma restrição de seu objeto, uma vez que a técnica não poderá ser compreendida pelo historiador em todas as manifestações em que ela já foi compreendida, mas se atendo as formulações do período histórico que o historiador analisa. E, finalmente, ao fazermos o exercício de ampliação do conceito de técnica para abarcar, além dos elementos técnicos propriamente trabalhados pela ciência, veremos que mesmo estes guardam uma relação com seu contexto humano e social, que torna o elemento da continuidade mais complexo, uma vez que a própria produção e aplicação de técnicas no contexto social estaria sujeito à legitimação dos seus destinatários. Sendo assim, vemos em autores tais como Habermas e Lacey, a dependência dos avanços técnicos de decisões legítimas na sociedade, o que pode refrear ou alimentar o desenvolvimento técnico. Portanto, para o historiador contemporâneo não basta a restrição de seu objeto de investigação técnica apenas ao contexto laboratorial, ou seja, aquele em que a técnica é efetivamente produzida, mas antes uma consideração mais ampla, que leve em conta pelo menos os contextos econômicos, políticos e sociais que levam ou não à aplicação de determinadas técnicas na sociedade.