Amigos,
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O texto a seguir foi apresentado em julho de 2011 como um dos requisitos para minha aprovação na disciplina Tendências e Leituras Críticas I, ministrada ao longo do primeiro semestre de 2011 no Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da USP/SP.
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A experiência de ter participado dessa disciplina é indescritível. Os textos e os professores com que tive contato aumentaram a minha convicção sobre a importância do diálogo entre as humanidades, particularmente a história, a filosofia e a literatura.
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Espero que a leitura seja proveitosa, apesar de achar que a minha postagem não deva substituir a leitura do texto completo de Auerbach.
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oo.OoO.oo
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1) Texto fichadoAUERBACH, E. A Cicatriz de Ulisses. In: _______. Mimesis: a representação da realidade na literatura Ocidental. 4 ed. São Paulo: Perspectiva, 2001. p.1-20.
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2) Resumo
Auerbach compara a passagem da cicatriz de Ulisses, presente no canto XIX da Odisséia com o relato do sacrifício de Isaac no Velho Testamento. A ideia que procura defender é a de que tais textos apresentam características diversas e que influenciam o modo de representação literária da realidade na cultura europeia. Considera que eles conformam estilos básicos. Por um lado, o homérico é caracterizado pela descrição modeladora, iluminação uniforme, ligação sem interstícios, locução livre, predominância do primeiro plano, univocidade, limitação quanto ao desenvolvimento histórico e quanto ao humanamente problemático; por outro lado, o estilo presente no Velho Testamento apresenta realce de certas partes em detrimento de outras, falta de conexão, efeito sugestivo tácito multiplicidade de planos, multivocidade e necessidade de interpretação, pretensão de universalidade histórica desenvolvimento da apresentação do devir histórico e profundamente problemático (cf. Auerbach, 2001, p. 19-20).
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3) Fichamento
Inicia o texto a partir do canto XIX da Odisséia em que Ulisses é reconhecido pela sua ama Euricléia. Auerbach observa na passagem as seguintes características: 1) descrição realizada com vagar, passando por comentário em que as mulheres (Euricléia e Penélope) comentam sobre seus sentimentos e, ainda assim, não faz com que os contornos da narrativa se confundam; 2) descrição do ambiente e dos objetos bem ordenada, fazendo com que homens e coisas permaneçam no espaço perceptível. Exemplo do incidente do reconhecimento de Ulisses pela ama, que toma quarenta versos antes e quarenta depois do momento mesmo de crise em que a governanta reconhece a cicatriz, descrevendo sua origem e não omitindo nenhuma das articulações que os eventos guardam entre si (cf. Auerbach, 2001, p. 2).
1) Texto fichadoAUERBACH, E. A Cicatriz de Ulisses. In: _______. Mimesis: a representação da realidade na literatura Ocidental. 4 ed. São Paulo: Perspectiva, 2001. p.1-20.
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2) Resumo
Auerbach compara a passagem da cicatriz de Ulisses, presente no canto XIX da Odisséia com o relato do sacrifício de Isaac no Velho Testamento. A ideia que procura defender é a de que tais textos apresentam características diversas e que influenciam o modo de representação literária da realidade na cultura europeia. Considera que eles conformam estilos básicos. Por um lado, o homérico é caracterizado pela descrição modeladora, iluminação uniforme, ligação sem interstícios, locução livre, predominância do primeiro plano, univocidade, limitação quanto ao desenvolvimento histórico e quanto ao humanamente problemático; por outro lado, o estilo presente no Velho Testamento apresenta realce de certas partes em detrimento de outras, falta de conexão, efeito sugestivo tácito multiplicidade de planos, multivocidade e necessidade de interpretação, pretensão de universalidade histórica desenvolvimento da apresentação do devir histórico e profundamente problemático (cf. Auerbach, 2001, p. 19-20).
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3) Fichamento
Inicia o texto a partir do canto XIX da Odisséia em que Ulisses é reconhecido pela sua ama Euricléia. Auerbach observa na passagem as seguintes características: 1) descrição realizada com vagar, passando por comentário em que as mulheres (Euricléia e Penélope) comentam sobre seus sentimentos e, ainda assim, não faz com que os contornos da narrativa se confundam; 2) descrição do ambiente e dos objetos bem ordenada, fazendo com que homens e coisas permaneçam no espaço perceptível. Exemplo do incidente do reconhecimento de Ulisses pela ama, que toma quarenta versos antes e quarenta depois do momento mesmo de crise em que a governanta reconhece a cicatriz, descrevendo sua origem e não omitindo nenhuma das articulações que os eventos guardam entre si (cf. Auerbach, 2001, p. 2).
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O pensamento do leitor moderno a respeito de tal passagem se inclinaria para a consideração de que a estratégia narrativa indica que o autor quer provocar o aumento de tensão. No entanto, para Auerbach, a tensão não é o elemento decisivo para explicar o processo homérico, porque ela é débil nas poesias homéricas e não se destina a manter em suspenso o leitor ou ouvinte. Exemplo do episódio da caça, que descrito com amplidão e de modo amoroso, ganhando com isso o leitor. No entanto, o não preenchimento total do presente cria interpolação que faz aumentar a tensão pelo retardamento. Essa é outra característica homérica, pois o autor não conhece segundos planos, narrando sempre o presente e preenchendo a cena e a consciência do leitor (cf. Auerbach, 2001, p. 2-3).
O pensamento do leitor moderno a respeito de tal passagem se inclinaria para a consideração de que a estratégia narrativa indica que o autor quer provocar o aumento de tensão. No entanto, para Auerbach, a tensão não é o elemento decisivo para explicar o processo homérico, porque ela é débil nas poesias homéricas e não se destina a manter em suspenso o leitor ou ouvinte. Exemplo do episódio da caça, que descrito com amplidão e de modo amoroso, ganhando com isso o leitor. No entanto, o não preenchimento total do presente cria interpolação que faz aumentar a tensão pelo retardamento. Essa é outra característica homérica, pois o autor não conhece segundos planos, narrando sempre o presente e preenchendo a cena e a consciência do leitor (cf. Auerbach, 2001, p. 2-3).
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Informa que através de correspondência Goethe e Schiller tratam sobre o elemento retardador da poesia homérica, opondo-o ao princípio de tensão, mesmo que não o nomeassem dessa maneira nas cartas de 19, 21 e 22 de abril de 1797. Tal princípio de tensão é considerado próprio do processo épico. Auerbach concorda que tal elemento retardador, no entanto, alerta para o fato de que Goethe e Schiller elevaram o processo homérico à lei da poesia épica, contrastando-a com o trágico. Afirma, finalmente, que existem obras épicas antigas e modernas que não apresentam o elemento retardador, mas que são carregadas de tensão, roubando a liberdade emocional, que Schiller pretende conceder apenas ao poeta trágico. Desta maneira, Auerbach considera que a verdadeira causa da impressão do retardamento reside na necessidade de o estilo homérico em não deixar nada na penumbra ou inacabado (cf. Auerbach, 2001, p. 3).
Informa que através de correspondência Goethe e Schiller tratam sobre o elemento retardador da poesia homérica, opondo-o ao princípio de tensão, mesmo que não o nomeassem dessa maneira nas cartas de 19, 21 e 22 de abril de 1797. Tal princípio de tensão é considerado próprio do processo épico. Auerbach concorda que tal elemento retardador, no entanto, alerta para o fato de que Goethe e Schiller elevaram o processo homérico à lei da poesia épica, contrastando-a com o trágico. Afirma, finalmente, que existem obras épicas antigas e modernas que não apresentam o elemento retardador, mas que são carregadas de tensão, roubando a liberdade emocional, que Schiller pretende conceder apenas ao poeta trágico. Desta maneira, Auerbach considera que a verdadeira causa da impressão do retardamento reside na necessidade de o estilo homérico em não deixar nada na penumbra ou inacabado (cf. Auerbach, 2001, p. 3).
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Analisa que a digressão sobre a origem da cicatriz não se diferencia de outros trechos, tais como aqueles em que uma personagem é introduzida na narrativa ou um apetrecho que aparece pela primeira vez, pois Homero os descreve em sua espécie e origem independente do momento específico da narrativa em que são introduzidos. Exemplo da cicatriz que surge no decorrer da ação, que vem claramente à luz revelando-se a juventude do herói. O mesmo impulso de representar fenômenos de modo acabado e visível é realizado quando da descrição de processos psicológicos. Exemplo de Ulisses que fala com os pretendentes quando começa a matá-los (cf. Auerbach, 2001, p. 4).
Analisa que a digressão sobre a origem da cicatriz não se diferencia de outros trechos, tais como aqueles em que uma personagem é introduzida na narrativa ou um apetrecho que aparece pela primeira vez, pois Homero os descreve em sua espécie e origem independente do momento específico da narrativa em que são introduzidos. Exemplo da cicatriz que surge no decorrer da ação, que vem claramente à luz revelando-se a juventude do herói. O mesmo impulso de representar fenômenos de modo acabado e visível é realizado quando da descrição de processos psicológicos. Exemplo de Ulisses que fala com os pretendentes quando começa a matá-los (cf. Auerbach, 2001, p. 4).
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Os fenômenos são descritos em primeiro plano no presente espacial e temporal, evitando a impressão de perspectiva através do uso de construções sintáticas comuns quando da introdução das interpolações. Exemplo do verso 393 em que se segue à palavra “cicatriz” uma oração relativa, que é expandida em parêntese sintático, no qual se introduz uma oração principal até que no verso 399 inicia um novo presente. Procedimento diferente desse seria o de uma ordenação em perspectiva, em que Ulisses recordasse da história da cicatriz. A questão é que esse processo subjetivo-perspectivista cria um primeiro e segundo planos, fazendo com que o presente se abra para o passado – estranho ao estilo homérico –, que faz da estória da cicatriz um presente independente e pleno (cf. Auerbach, 2001, p. 5).
Os fenômenos são descritos em primeiro plano no presente espacial e temporal, evitando a impressão de perspectiva através do uso de construções sintáticas comuns quando da introdução das interpolações. Exemplo do verso 393 em que se segue à palavra “cicatriz” uma oração relativa, que é expandida em parêntese sintático, no qual se introduz uma oração principal até que no verso 399 inicia um novo presente. Procedimento diferente desse seria o de uma ordenação em perspectiva, em que Ulisses recordasse da história da cicatriz. A questão é que esse processo subjetivo-perspectivista cria um primeiro e segundo planos, fazendo com que o presente se abra para o passado – estranho ao estilo homérico –, que faz da estória da cicatriz um presente independente e pleno (cf. Auerbach, 2001, p. 5).
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Comparação do estilo homérico com o relato do sacrifício de Isaac, na tradução de King Jones, em que na introdução já inicia com o diálogo entre Deus e Abrãao. Em que pese o leitor saber que os interlocutores não se acham no mesmo lugar terreno (cf. Auerbach, 2001, p. 5). Nada é explicado, não sendo discutida a causa de Abrãao ter sido tentado ou as motivações de Deus. Uma explicação possível para a diferença nos estilos está na singular noção divina dos judeus. Auerbach, porém, não a considera suficiente, pois além de causa é também sintoma do modo próprio de ver e representar (cf. Auerbach, 2001, p. 6). Outra incógnita é onde estaria Abrãao, já que a expressão “Eis-me aqui”, não indica o lugar real em que Abrãao se encontra, mas antes a sua posição moral em relação a Deus. Diferença exemplificada pela visita de Hermes à Calipso. No relato Bíblico nada é explicado a respeito dos interlocutores e tudo o que o leitor tem a disposição são as palavras breves e abruptas. Além disso, o lugar não é definido e, mesmo que imaginássemos Abrãao de braços abertos ou olhando para o alto, Deus não estaria lá, fazendo com que ele se dirigisse para um lugar indefinido e escuro, fora do primeiro plano em que lhe chega a voz (cf. Auerbach, 2001, p. 6-7);
Comparação do estilo homérico com o relato do sacrifício de Isaac, na tradução de King Jones, em que na introdução já inicia com o diálogo entre Deus e Abrãao. Em que pese o leitor saber que os interlocutores não se acham no mesmo lugar terreno (cf. Auerbach, 2001, p. 5). Nada é explicado, não sendo discutida a causa de Abrãao ter sido tentado ou as motivações de Deus. Uma explicação possível para a diferença nos estilos está na singular noção divina dos judeus. Auerbach, porém, não a considera suficiente, pois além de causa é também sintoma do modo próprio de ver e representar (cf. Auerbach, 2001, p. 6). Outra incógnita é onde estaria Abrãao, já que a expressão “Eis-me aqui”, não indica o lugar real em que Abrãao se encontra, mas antes a sua posição moral em relação a Deus. Diferença exemplificada pela visita de Hermes à Calipso. No relato Bíblico nada é explicado a respeito dos interlocutores e tudo o que o leitor tem a disposição são as palavras breves e abruptas. Além disso, o lugar não é definido e, mesmo que imaginássemos Abrãao de braços abertos ou olhando para o alto, Deus não estaria lá, fazendo com que ele se dirigisse para um lugar indefinido e escuro, fora do primeiro plano em que lhe chega a voz (cf. Auerbach, 2001, p. 6-7);
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Após a introdução a ordem é pronunciada, inicia-se a narração sobre a viagem, que, no entanto, não é preenchida por detalhes. Até a chegada ao local em que se consumaria o sacrifício, revela-se apenas a sua duração que é de três dias. Somente a meta do sacrifício é revelada: Juruel, na terra de Moriá, não importando tanto a sua relação geográfica com outros lugares, mas sim a sua eleição realizada por Deus. A oferenda de Abrãao faz surgir a tensão opressiva, que Schiller procurava reservar ao poeta trágico, mas que se adéqua ao relato Bíblico, considerado por Auerbach épico (cf. Auerbach, 2001, p. 7-8).
Após a introdução a ordem é pronunciada, inicia-se a narração sobre a viagem, que, no entanto, não é preenchida por detalhes. Até a chegada ao local em que se consumaria o sacrifício, revela-se apenas a sua duração que é de três dias. Somente a meta do sacrifício é revelada: Juruel, na terra de Moriá, não importando tanto a sua relação geográfica com outros lugares, mas sim a sua eleição realizada por Deus. A oferenda de Abrãao faz surgir a tensão opressiva, que Schiller procurava reservar ao poeta trágico, mas que se adéqua ao relato Bíblico, considerado por Auerbach épico (cf. Auerbach, 2001, p. 7-8).
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O mesmo contraste pode ser observado no discurso direito, mas no relato Bíblico o discurso tem a intenção de aludir algo que está implícito e inexpresso e não, como em Homero, a manifestação ou exteriorização de pensamentos. Deus ordena em discurso direto, porém cala os motivos, enquanto Abrãao emudece diante da ordem. A conversa entre Isaac e Abrãao a caminho do sacrifício interrompe o silêncio, mas, ao invés de esclarecer, apenas torna-o mais opressivo (cf. Auerbach, 2001, p. 8).
O mesmo contraste pode ser observado no discurso direito, mas no relato Bíblico o discurso tem a intenção de aludir algo que está implícito e inexpresso e não, como em Homero, a manifestação ou exteriorização de pensamentos. Deus ordena em discurso direto, porém cala os motivos, enquanto Abrãao emudece diante da ordem. A conversa entre Isaac e Abrãao a caminho do sacrifício interrompe o silêncio, mas, ao invés de esclarecer, apenas torna-o mais opressivo (cf. Auerbach, 2001, p. 8).
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Auerbach visualiza contrastes marcantes de estilo nesses dois textos antigos e épicos. Resumidamente: em Homero temos fenômenos acabados, uniformemente iluminados, definidos temporal e espacialmente, ligados entre si, sem interstícios e em primeiro plano. No relato Bíblico, por outro lado, só é acabado formalmente aquilo que interessa para a ação, sendo todo o restante relegado à escuridão. O que há entre os pontos de ação é o inconsciente, tempo e espaço permanecem indefinidos, precisando de interpretação, e pensamentos e sentimentos ficam inexpressos (cf. Auerbach, 2001, p. 9).
Auerbach visualiza contrastes marcantes de estilo nesses dois textos antigos e épicos. Resumidamente: em Homero temos fenômenos acabados, uniformemente iluminados, definidos temporal e espacialmente, ligados entre si, sem interstícios e em primeiro plano. No relato Bíblico, por outro lado, só é acabado formalmente aquilo que interessa para a ação, sendo todo o restante relegado à escuridão. O que há entre os pontos de ação é o inconsciente, tempo e espaço permanecem indefinidos, precisando de interpretação, e pensamentos e sentimentos ficam inexpressos (cf. Auerbach, 2001, p. 9).
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O poema homérico apresenta em sua estrutura sensorial, linguística e sintática é mais elaborada, em que pese a sua perspectiva sobre o homem ser simples. À medida que acompanhamos a história, não somos acossados pela dúvida de sua verdade histórica, pois a realidade é forte e envolvente, criando um mundo que existe por si mesmo, sendo o leitor ou ouvinte introduzido nesse mundo, não havendo nenhum outro conteúdo senão ele próprio, sem sentidos ocultos, o que faz com que possamos analisar Homero, mas não interpretá-lo (cf. Auerbach, 2001, p. 10).
O poema homérico apresenta em sua estrutura sensorial, linguística e sintática é mais elaborada, em que pese a sua perspectiva sobre o homem ser simples. À medida que acompanhamos a história, não somos acossados pela dúvida de sua verdade histórica, pois a realidade é forte e envolvente, criando um mundo que existe por si mesmo, sendo o leitor ou ouvinte introduzido nesse mundo, não havendo nenhum outro conteúdo senão ele próprio, sem sentidos ocultos, o que faz com que possamos analisar Homero, mas não interpretá-lo (cf. Auerbach, 2001, p. 10).
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Já nos relatos bíblicos a intenção não é o encantamento sensorial, sendo seu sucesso ético, religioso, interior concretizado na vida. Além disso, o narrador (Eloísta) tinha que acreditar na verdade objetiva da história da Abrãao, que pretende ser a única verdade, querendo, portanto, dominar. É justamente essa fusão de doutrina e promessa que dota a narrativa de caráter recôndito e obscuro, contendo segundo sentido oculto. O texto, então, torna-se carregado trazendo alusões sobre a essência de Deus e a atitude do homem piedoso (cf. Auerbach, 2001, p. 11-2).
Já nos relatos bíblicos a intenção não é o encantamento sensorial, sendo seu sucesso ético, religioso, interior concretizado na vida. Além disso, o narrador (Eloísta) tinha que acreditar na verdade objetiva da história da Abrãao, que pretende ser a única verdade, querendo, portanto, dominar. É justamente essa fusão de doutrina e promessa que dota a narrativa de caráter recôndito e obscuro, contendo segundo sentido oculto. O texto, então, torna-se carregado trazendo alusões sobre a essência de Deus e a atitude do homem piedoso (cf. Auerbach, 2001, p. 11-2).
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O relato Bíblico é mais exigente, pois não apenas requer interpretação, como também que suplantemos nossa realidade, inserindo-nos naquele mundo, fazendo-nos participando de sua estrutura histórico-universal, o que se torna cada vez mais difícil pelo afastamento de nosso mundo vital em relação ao das Escrituras, mesmo que estas mantenham a sua pretensão de autoridade. Cabe, então, uma transformação interpretativa (cf. Auerbach, 2001, p. 12), que, na Idade Média, era realizado pelo método exegético. Porém, despertada a consciência crítica, despreza-se o método exegético, convertendo os relatos Bíblicos em lendas (cf. Auerbach, 2001, p.13).
O relato Bíblico é mais exigente, pois não apenas requer interpretação, como também que suplantemos nossa realidade, inserindo-nos naquele mundo, fazendo-nos participando de sua estrutura histórico-universal, o que se torna cada vez mais difícil pelo afastamento de nosso mundo vital em relação ao das Escrituras, mesmo que estas mantenham a sua pretensão de autoridade. Cabe, então, uma transformação interpretativa (cf. Auerbach, 2001, p. 12), que, na Idade Média, era realizado pelo método exegético. Porém, despertada a consciência crítica, despreza-se o método exegético, convertendo os relatos Bíblicos em lendas (cf. Auerbach, 2001, p.13).
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O método exegético e sua pretensão de autoridade absoluta foi utilizada para outras tradições, que não a judaica. O poema homérico fornece um complexo de acontecimentos com delimitação temporal e espacial, incluindo facilmente complexos anteriores, coetâneos ou posteriores. Já o relato do Velho Testamento, por outro lado, oferece a história universal, no sentido de que começa com a criação do mundo e o início dos tempos e termina com o fim dos tempos, fazendo com que todo o mais que ocorre no mundo possa ser colocado como parte dessa estrutura, integrando-se ao plano divino. Por conseguinte, estando o Velho Testamento colocado no plano da realidade plena, fazendo com que seu conteúdo seja constantemente modificado, torando-o ativo na vida do homem na Europa (cf. Auerbach, 2001, p. 13).
O método exegético e sua pretensão de autoridade absoluta foi utilizada para outras tradições, que não a judaica. O poema homérico fornece um complexo de acontecimentos com delimitação temporal e espacial, incluindo facilmente complexos anteriores, coetâneos ou posteriores. Já o relato do Velho Testamento, por outro lado, oferece a história universal, no sentido de que começa com a criação do mundo e o início dos tempos e termina com o fim dos tempos, fazendo com que todo o mais que ocorre no mundo possa ser colocado como parte dessa estrutura, integrando-se ao plano divino. Por conseguinte, estando o Velho Testamento colocado no plano da realidade plena, fazendo com que seu conteúdo seja constantemente modificado, torando-o ativo na vida do homem na Europa (cf. Auerbach, 2001, p. 13).
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Outra característica é a de que o Velho Testamente é menos unitário que o relato homérico, mesmo que cada fragmento faça parte de contexto histórico-universal e interpretativo da história universal. Sendo assim, quando mais isolados são os relatos, tanto mais forte é a sua ligação vertical, que mantém todos juntos. Nas grandes figuras do Velho Testamento, desde Adão até os Profetas encarna-se essa ligação vertical, que Deus escolhera como encarnação de sua essência e vontade, sendo que a modelagem ocorre paulatinamente e de maneira histórica. No caso da história de Abrãao a modelagem envolve terríveis provas. Eis a diferença em relação às personagens homéricas, pois as grandes figuras do Velho Testamento são desenvolvidas, carregadas de sua história vital e caracterizadas por sua individualidade (cf. Auerbach, 2001, p. 14).
Outra característica é a de que o Velho Testamente é menos unitário que o relato homérico, mesmo que cada fragmento faça parte de contexto histórico-universal e interpretativo da história universal. Sendo assim, quando mais isolados são os relatos, tanto mais forte é a sua ligação vertical, que mantém todos juntos. Nas grandes figuras do Velho Testamento, desde Adão até os Profetas encarna-se essa ligação vertical, que Deus escolhera como encarnação de sua essência e vontade, sendo que a modelagem ocorre paulatinamente e de maneira histórica. No caso da história de Abrãao a modelagem envolve terríveis provas. Eis a diferença em relação às personagens homéricas, pois as grandes figuras do Velho Testamento são desenvolvidas, carregadas de sua história vital e caracterizadas por sua individualidade (cf. Auerbach, 2001, p. 14).
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Mesmo personagens como Aquiles e Ulisses, que são bem descritos, mencionando os seus epítetos e cujas emoções são manifestas em discursos e gestos, eles não possuem desenvolvimento na história de suas vidas, que é estabelecida univocamente. Mesmo no caso de Ulisses, que é a personagem que mais possibilitaria o desenvolvimento histórico-vital devido ao longo tempo narrado e a sequencia de acontecimentos. Mesmo seu envelhecimento físico é velado pelas intervenções de Atenéia, que o faz parecer velho ou jovem a depender do que requer cada situação (cf. Auerbach, 2001, p. 14).
Mesmo personagens como Aquiles e Ulisses, que são bem descritos, mencionando os seus epítetos e cujas emoções são manifestas em discursos e gestos, eles não possuem desenvolvimento na história de suas vidas, que é estabelecida univocamente. Mesmo no caso de Ulisses, que é a personagem que mais possibilitaria o desenvolvimento histórico-vital devido ao longo tempo narrado e a sequencia de acontecimentos. Mesmo seu envelhecimento físico é velado pelas intervenções de Atenéia, que o faz parecer velho ou jovem a depender do que requer cada situação (cf. Auerbach, 2001, p. 14).
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Além disso, os personagens homéricos estão mais sujeitos a oscilações pendulares, mesmo que os heróis sejam portadores da vontade divina, são eles também falíveis e sujeitos a desgraça e humilhação, através dessas últimas manifestando-se a sublimidade de Deus. Exemplo de Adão que sofre tanto a maior humilhação, e ainda assim outros heróis do Velho Testamento sofrem intervenção e inspiração pessoais de Deus. Por outro lado, o mendigo Ulisses é apenas um disfarce. Entretanto, oscilação pendular e intensidade da história pessoal estão e relação uma com a outra, pois quando da superação da situação extrema em que a personagem é colocada resulta intenso desenvolvimento (cf. Auerbach, 2001, p. 15).
Além disso, os personagens homéricos estão mais sujeitos a oscilações pendulares, mesmo que os heróis sejam portadores da vontade divina, são eles também falíveis e sujeitos a desgraça e humilhação, através dessas últimas manifestando-se a sublimidade de Deus. Exemplo de Adão que sofre tanto a maior humilhação, e ainda assim outros heróis do Velho Testamento sofrem intervenção e inspiração pessoais de Deus. Por outro lado, o mendigo Ulisses é apenas um disfarce. Entretanto, oscilação pendular e intensidade da história pessoal estão e relação uma com a outra, pois quando da superação da situação extrema em que a personagem é colocada resulta intenso desenvolvimento (cf. Auerbach, 2001, p. 15).
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Diferença em relação a Homero, que permanece em seu relato como lendário, enquanto o assunto do Velho Testamento aproxima-se do relato histórico. Auerbach considera que a diferenciação entre lenda e história é facilmente reconhecido mesmo pelo leitor pouco experiente (cf. Auerbach, 2001, p. 15). Porém, dentro do relato histórico é mais difícil distinguir entre o verdadeiro e o falso ou o parcialmente iluminado, requerendo formação histórico-filológica. Isso ocorre porque a estrutura da lenda é diferente, mesmo quando não se denuncia diretamente pela presença de elementos maravilhosos, pela repetição de motivos conhecidos ou pelo desleixo na localização espacial ou temporal. Em sua estrutura, desenvolve-se de maneira linear, fazendo com que aquilo que ocorre transversalmente e com atrito seja secundário. A história que presenciamos ou que conhecemos pelo testemunho de contemporâneos, transcorre de modo menos uniforme, mais cheia de contradição e de confusão. Por outro lado, a lenda ordena o assunto de modo unívoco e decidido, destacando-a de sua relação com o mundo, que não pode intervir de modo perturbador. Conhece homens univocamente fixados com motivos simples e íntegros em seus sentimentos e ações, enquanto os objetos históricos em geral apresentam indivíduos com vários motivos, que são narrados por meio de simplificação (cf. Auerbach, 2001, p. 16).
Diferença em relação a Homero, que permanece em seu relato como lendário, enquanto o assunto do Velho Testamento aproxima-se do relato histórico. Auerbach considera que a diferenciação entre lenda e história é facilmente reconhecido mesmo pelo leitor pouco experiente (cf. Auerbach, 2001, p. 15). Porém, dentro do relato histórico é mais difícil distinguir entre o verdadeiro e o falso ou o parcialmente iluminado, requerendo formação histórico-filológica. Isso ocorre porque a estrutura da lenda é diferente, mesmo quando não se denuncia diretamente pela presença de elementos maravilhosos, pela repetição de motivos conhecidos ou pelo desleixo na localização espacial ou temporal. Em sua estrutura, desenvolve-se de maneira linear, fazendo com que aquilo que ocorre transversalmente e com atrito seja secundário. A história que presenciamos ou que conhecemos pelo testemunho de contemporâneos, transcorre de modo menos uniforme, mais cheia de contradição e de confusão. Por outro lado, a lenda ordena o assunto de modo unívoco e decidido, destacando-a de sua relação com o mundo, que não pode intervir de modo perturbador. Conhece homens univocamente fixados com motivos simples e íntegros em seus sentimentos e ações, enquanto os objetos históricos em geral apresentam indivíduos com vários motivos, que são narrados por meio de simplificação (cf. Auerbach, 2001, p. 16).
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Por outro lado, boa parte dos livros de Samuel contém história e não lenda, mesmo que os relatos históricos tenham sido narrados com parcialidade, inicia aqui a passagem do lendário para o histórico, o que não acontece nas poesias homéricas, cuja tendência é a de harmonização aplainante do acontecido, a da simplificação de motivos e fixação estática dos caracteres. Abrãao, Jacó e até Moisés tem narrativas que se aproximam mais do concreto, porque a variedade confusa, contraditória e inibições internas e externas da história autêntica estão conservadas. O que, por sua vez, está relacionado a concepção judaica de homem e que os narradores tenham sido historiadores. E, como consequência dessa unidade da estrutura religiosa-vertical, não pode surgir conscientemente a divisão de gêneros literários. Auerbach interessa-se especialmente pelos relatos davidicos, por sua transição do lendário para o histórico. O Velho Testamento, assim, ocupado como está do acontecimento humano, domina três âmbitos: lenda, relato histórico e teologia histórica exegética (cf. Auerbach, 2001, p. 17-8).
Por outro lado, boa parte dos livros de Samuel contém história e não lenda, mesmo que os relatos históricos tenham sido narrados com parcialidade, inicia aqui a passagem do lendário para o histórico, o que não acontece nas poesias homéricas, cuja tendência é a de harmonização aplainante do acontecido, a da simplificação de motivos e fixação estática dos caracteres. Abrãao, Jacó e até Moisés tem narrativas que se aproximam mais do concreto, porque a variedade confusa, contraditória e inibições internas e externas da história autêntica estão conservadas. O que, por sua vez, está relacionado a concepção judaica de homem e que os narradores tenham sido historiadores. E, como consequência dessa unidade da estrutura religiosa-vertical, não pode surgir conscientemente a divisão de gêneros literários. Auerbach interessa-se especialmente pelos relatos davidicos, por sua transição do lendário para o histórico. O Velho Testamento, assim, ocupado como está do acontecimento humano, domina três âmbitos: lenda, relato histórico e teologia histórica exegética (cf. Auerbach, 2001, p. 17-8).
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Com relação ao círculo de personagens homéricos, ele se apresenta mais limitado e estático. Além de Ulisses, Penélope, a ama Euricléia, uma escreva comprada pelo pai de Ulisses (Laerte), que passou a vida a serviço da família dos Laerte, compartilhado seus interesses e sentimentos. Eumeu recorda de ter nascido livre e pertencente a uma família nobre, mas, tal como Euricléia, não possui nem vida nem sentimentos próprios, estando atado aos senhores. Tais personagens, que são as únicas animadas por Homero, que não pertencem à classe senhorial, familiarizada com as atividades quotidianas da vida econômica, sendo ainda uma aristocracia feudal. Enquanto estrutura, esse mundo é completamente imóvel (cf. Auerbach, 2001, p. 18).
Com relação ao círculo de personagens homéricos, ele se apresenta mais limitado e estático. Além de Ulisses, Penélope, a ama Euricléia, uma escreva comprada pelo pai de Ulisses (Laerte), que passou a vida a serviço da família dos Laerte, compartilhado seus interesses e sentimentos. Eumeu recorda de ter nascido livre e pertencente a uma família nobre, mas, tal como Euricléia, não possui nem vida nem sentimentos próprios, estando atado aos senhores. Tais personagens, que são as únicas animadas por Homero, que não pertencem à classe senhorial, familiarizada com as atividades quotidianas da vida econômica, sendo ainda uma aristocracia feudal. Enquanto estrutura, esse mundo é completamente imóvel (cf. Auerbach, 2001, p. 18).
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Mesmo que no Velho Testamento a constituição patriarcal também seja predominante, como se trata de chefes de família isolados, nômades ou seminômades, o quadro social parece menos estável, não sendo observável a formação de classes. Exemplo do povo que, após a sua saída do Egito, é percebido por sua mobilidade, intervindo frequentemente nos acontecimentos. Além disso, dessa historicidade e mobilidade social também faz surgir conceito de estilo elevado e de sublimidade diferente do de Homero, já que este não receia inserir o quotidiano e realista no sublime trágico (cf. Auerbach, 2001, p. 18-9). Exemplo do reconhecimento da cicatriz e do lava pés estão inseridos na cena do retorno ao lar, o que ainda está longe da regra de separação dos estilos, que imporia que a descrição realista do cotidiano era inconciliável como o sublime. Entretanto, Homero é o que está mais próximo das regras que o Velho Testamento, pois o grande e o sublime ocorrem mais exclusivamente com membros da classe senhorial, mais estáveis em sua sublimidade do que os heróis do Velho Testamento (cf. Auerbach, 2001, p. 19).
Mesmo que no Velho Testamento a constituição patriarcal também seja predominante, como se trata de chefes de família isolados, nômades ou seminômades, o quadro social parece menos estável, não sendo observável a formação de classes. Exemplo do povo que, após a sua saída do Egito, é percebido por sua mobilidade, intervindo frequentemente nos acontecimentos. Além disso, dessa historicidade e mobilidade social também faz surgir conceito de estilo elevado e de sublimidade diferente do de Homero, já que este não receia inserir o quotidiano e realista no sublime trágico (cf. Auerbach, 2001, p. 18-9). Exemplo do reconhecimento da cicatriz e do lava pés estão inseridos na cena do retorno ao lar, o que ainda está longe da regra de separação dos estilos, que imporia que a descrição realista do cotidiano era inconciliável como o sublime. Entretanto, Homero é o que está mais próximo das regras que o Velho Testamento, pois o grande e o sublime ocorrem mais exclusivamente com membros da classe senhorial, mais estáveis em sua sublimidade do que os heróis do Velho Testamento (cf. Auerbach, 2001, p. 19).
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Finalmente a representação do caseiro em Homero permanece no idílico pacífico, enquanto nos relatos do Velho Testamento, o sossego da atividade cotidiana na casa, nos campos e junto aos rebanhos é minado em torno dos ciúmes e da eleição e à promessa de bênção, complicações que não são próprias do herói homérico. O motivo de inimizades entre os heróis homéricos são palpáveis, exprimíveis e resultam em luta aberta. Por outro lado, é o lento e constante fogo dos ciúmes, bem como a ligação entre o doméstico e o espiritual que impregnam o cotidiano de substância conflitiva, tornando o sublime e o cotidiano inseparáveis (cf. Auerbach, 2001, p. 19).
Finalmente a representação do caseiro em Homero permanece no idílico pacífico, enquanto nos relatos do Velho Testamento, o sossego da atividade cotidiana na casa, nos campos e junto aos rebanhos é minado em torno dos ciúmes e da eleição e à promessa de bênção, complicações que não são próprias do herói homérico. O motivo de inimizades entre os heróis homéricos são palpáveis, exprimíveis e resultam em luta aberta. Por outro lado, é o lento e constante fogo dos ciúmes, bem como a ligação entre o doméstico e o espiritual que impregnam o cotidiano de substância conflitiva, tornando o sublime e o cotidiano inseparáveis (cf. Auerbach, 2001, p. 19).
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O realismo homérico não pode, entretanto, ser equiparado ao clássico-antigo, pois a separação de estilos ocorrerá mais tarde, não permitindo a descrição minuciosa dos acontecimentos cotidianos. Apenas no realismo romano surgirão novas formas de ver as coisas, apesar de o estilo homérico terem vigorado até a mais tardia Antiguidade. Finalmente, ao assumir Homero e o Velho Testamento como estilos acabados, Auerbach não se refere às origens dos mesmos, deixando também de lado a se as peculiaridades são originais ou atribuíveis aos mesmos (cf. Auerbach, 2001, p.20).
O realismo homérico não pode, entretanto, ser equiparado ao clássico-antigo, pois a separação de estilos ocorrerá mais tarde, não permitindo a descrição minuciosa dos acontecimentos cotidianos. Apenas no realismo romano surgirão novas formas de ver as coisas, apesar de o estilo homérico terem vigorado até a mais tardia Antiguidade. Finalmente, ao assumir Homero e o Velho Testamento como estilos acabados, Auerbach não se refere às origens dos mesmos, deixando também de lado a se as peculiaridades são originais ou atribuíveis aos mesmos (cf. Auerbach, 2001, p.20).
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