domingo, 22 de maio de 2011

Sobre o uso de textos na internet como fonte bibliográfica para trabalhos escritos








O tema que tratarei nessa postagem pode ser considerado óbvio para os estudantes e pesquisadores familiarizados com as normas de publicação acadêmica. No entanto, não quero apresentá-lo como um tema novo ou velho, mas sim como objeto de reflexão. O tema proposto é o do uso de textos da internet como fonte para a produção de trabalhos escritos, comumente solicitados não apenas no meio acadêmico, como também para alunos do ensino fundamental e médio. Apresento primeiramente três riscos que corremos ao utilizarmos textos de internet inadvertidamente e depois forneço algumas dicas para o desenvolvimento da pesquisa bibliográfica, dicas estas que podem ajudar a apurar o nosso senso crítico em relação àquilo que lemos, o que, por sua vez, pode nos ajudar na produção de textos escritos melhores.
oO.o.Oo

1) Qualidade das fontes: quem já teve a experiência de fazer curso de pós-graduação com a exigência de apresentação de um trabalho final sabe que em grande parte a qualidade de seu trabalho escrito depende da qualidade das fontes utilizadas. Nas pós-graduações stricto sensu, ou seja, no mestrado e no doutorado, os trabalhos finais são chamados, respectivamente, de dissertação e tese. De modo simplificado, poderíamos afirmar que o objetivo desses trabalhos escritos é mensurar a capacidade do candidato em apresentar um tema ou problema, desenvolvê-lo e propor algum tipo de resposta para o tema ou problema tratado. É claro que em minha descrição estou me atendo aos trabalhos bibliográficos, tais como os apresentados pelas humanidades (filosofia, história, letras etc.), e não estou tratando de trabalhos que exigem uma parte laboratorial ou em campo, como é o caso de algumas pesquisas nas ciências naturais ou biológicas, ou mesmo em algumas pesquisas sociológicas.

Dado esse esclarecimento e voltando ao exemplo dos trabalhos de pós-graduação stricto sensu, antes mesmo de escrevê-los o aluno de pós-graduação apresenta um projeto, que nada mais é que a descrição do seu tema, problema, objetivos, etapas e cronograma de realização do trabalho. Além disso, cada pós-graduando tem um orientador, que é um pesquisador com mais experiência e que vai direcionar a pesquisa bibliográfica e fará a leitura crítica do seu texto escrito, para que o pós-graduando consiga ao final atingir o nível de qualidade exigido para sua aprovação. Considero que podemos extrair do exemplo dos trabalhos escritos em pós-graduação o seguinte: (1) os trabalhos escritos que produzimos são a expressão daquilo que apreendemos sobre o tema ou problema proposto como objeto de pesquisa. Então, devemos levar bastante a sério a pesquisa bibliográfica que fazemos para basear nosso trabalho, entre outras razões, porque outros pesquisadores nos avaliarão através daquilo que escrevemos; (2) o meio acadêmico propõe uma série de estratégias de pesquisa (a chamada metodologia) e de avaliação, que primam pela qualidade dos trabalhos escritos. Ter interesse na metodologia é também primar pela qualidade do nosso trabalho.

2) Respeito aos direitos autorais: no Brasil, temos uma legislação específica sobre Direitos Autorais, a Lei n. 9.610, de 19 de fevereiro de 1998 (para ler na íntegra: http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L9610.htm). Podemos dizer que o objetivo da lei é duplo, pois ao mesmo tempo procura fixar a relação entre autor e obra e, por outro lado, procura evitar a comercialização da obra, sem o consentimento do autor. Não pretendo entrar aqui em especificações técnicas, que exigiria explicação mais ampla e referência a autores especialistas na área. O meu objetivo é o de mostrar que citar a fonte das ideias que você apresenta em um trabalho escrito não é apenas uma questão de "etiqueta" acadêmica, como também um reconhecimento de quem é o autor daquelas ideias. É claro que existem algumas ideias que nós mesmos produzimos a partir de nosso estudo, mas nesse momento estou tratando das partes de textos que utilizamos de outros autores. As regras da ABNT (mais informações em: http://www.abnt.org.br/), apontam como devemos fazer a referência aos autores que utilizados, mas basicamente existem formas textuais, ou seja, ao longo do nosso texto, sempre que utilizarmos ideias que não são nossas, indicar de quem são, a obra e a página de onde extraímos aquela passagem. Como afirmei, essa não é apenas uma questão de "etiqueta", mas uma tentativa de expressar de modo mais objetivo possível quando em nosso texto as ideias são de nossa autoria e quando as ideias são de autoria de outros pesquisadores ou autores. Finalmente, além do que chamei de formas textuais de citação de textos, também faremos referência ao autor nas "referências bibliográficas" ou simplesmente "bibliografia", elemento que está posicionado ao final de um trabalho escrito e que deve listar de modo exaustivo as obras utilizadas ao longo do texto.

3) Risco de plágio: esse item decorre dos dois anteriores. Ora, se entendo que o trabalho escrito é uma "vitrine" de minha produção intelectual e que nele posso utilizar ideias de outros autores, toda a vez que apresentar ideias que não são minhas em meus trabalhos escritos sem citar a fonte, posso ser acusado de plágio, ou seja, de estar apresentando como minhas ideias que na verdade não o são. As consequências de não citar a fonte das ideias que utilizamos em nossos trabalhos escritos podem ser sentidas tanto na avaliação que nossos orientadores ou membros da banca de avaliação farão, que pode ir desde a retirada de pontuação por não atendermos à regras básicas de metodologia, ao extremo de nossa reprovação. Daí que seja compreensível que os professores do ensino fundamental e médio usualmente orientem seus alunos a não simplesmente copiarem as ideias que eles leem, mas tentar expressar as ideias com suas próprias palavras. Expressar com as próprias palavras não é apenas trocar o que o autor está dizendo por palavras sinônimas. Por exemplo, o autor afirma "aquela manhã me lembrou uma situação na casa dos meus pais" e eu expresso aparentemente com minhas palavras a seguinte frase: "aquele dia recordou-me um acontecimento na cada de meus genitores". Esse é um exemplo de como não fazer bem o que o professor nos pediu. Outro modo, metodologicamente mais correto seria afirmar algo do tipo: "O autor afirma que aquele dia, trouxe à sua lembrança...". A diferença entre uma e outra frase que escrevi a partir da leitura do texto do autor pode inicialmente não parecer evidente, mas pelo menos no segundo caso estou deixando claro que a ideia não é minha e sim de outra pessoa.

Para combater os três riscos acima apontados, podemos considerar a seguinte metodologia de pesquisa. A primeira e talvez a mais importante, é nos certificarmos de quais são os comentadores realmente especializados nos autores ou assuntos sobre os quais precisaremos escrever. Apesar de eu particularmente considerar que o contato direto com o texto do autor seja igualmente relevante para que possamos formar nossos próprios juízos e reflexões sobre os temas tratados, não podemos esquecer que um pesquisador estude o mesmo tema ou autor há anos, provavelmente terá percepções mais acuradas que as minhas. Tanto que, para alguns, esse contato direto com o autor sem um preparo que poderia ter sido fornecido pelo especialista é um contato "selvagem" com o texto, que pode levar a um verdadeiro conjunto de conclusões equivocadas. Não sei se chegaria a tanto, mas concordo que a leitura de especialistas é imprescindível. Para o caso da internet, vale então a orientação geral de que temos que estar atentos ao autor, ou seja, ele é ou não especialista no assunto? O que não quer dizer que se ele não for especialista vai necessariamente dizer coisas erradas, mesmo porque essa orientação poderia se voltar contra meu próprio blog, uma vez que trato em forma de ensaio sobre vários assuntos sobre os quais não sou especialista. Mas, procuro deixar claro quando não conheço o assunto, sempre que possível apontando as fontes das ideias sobre as quais escrevo. Então, a recomendação continua sendo válida a meu ver.

Finalmente, tratando agora do tema da citação de textos da internet, vale a mesma regra geral para as demais textos. Caso a ideia que você apresente no seu texto escrito não seja sua, mas de algum autor que publicou suas ideias na internet, indique isso explicitamente no seu texto escrito. Acho que as duas únicas especificações que a citação de textos da internet possuem são as de que você tem que colocar o link onde o texto está publicado e, além disso, a data de acesso ao link que você está citando, dada a característica de instabilidade dos textos que são publicados na internet. Quero dizer, se compararmos com um livro impresso, os textos da internet são passíveis de modificação a qualquer momento ou mesmo de serem simplesmente extraídos, quando, por exemplo, um blog ou site é desativado. Sendo assim, posso apresentar como exemplo de uma boa referência à publicações de internet é o seguinte (digamos que estão tentando fazer referência a esse texto que escrevi no meu blog): "Aymoré, D. Sobre o uso de textos na internet como fonte bibliográfica para trabalhos escritos. Disponível em <http://humanidadesemdestaque.blogspot.com/2011/05/sobre-o-uso-de-textos-na-internet-como.html>. Acesso em 22 de maio de 2011" (apenas um detalhe, a data de acesso é a data em que você acessou o texto e não a data em que ele foi publicado no blog ou site).

Nenhum comentário: