domingo, 18 de julho de 2010

Resenha: A Tensão Essencial









Obra: Kuhn, T. The essential tension: tradition and innovation in scientific research. In: The essential tension. Chicago: University of Chicago Press, 1985. pp. 225-39.



O.o.O



Apresentação
A obra A estrutura das revoluções científicas (1962) de Thomas Kuhn trata do modo como a ciência se desenvolve, apresenta dois sentidos distintos de mudança científica. O primeiro, que ocorre na ciência normal, é concebido como acréscimo de conhecimento ao conjunto anteriormente existente, através da aplicação do paradigma. Já o segundo ocorre justamente pela mudança do paradigma científico, na chamada revolução científica. O texto resenhado, posterior as ideias apresentadas por Kuhn na Estrutura, aponta de modo mais evidente a relação entre as duas formas de mudança na ciência, que tem como consequência o fato de que a análise do desenvolvimento não pode nem prescindir, nem dar preferência a um dos elementos em tensão, ou seja, a tradição e a inovação científica.

Resenha
1) Kuhn afirma que sua tese principal é a de que nas ciências (e aqui está pensando fundamentalmente nas ciências naturais), é melhor lidar com as ferramentas que se tem a mão do que parar para contemplar diferentes abordagens (p. 225), afirmação esta que aparentemente contradiz a tese mesma esboçada no título, que remete a tensão e a inovação;

2) No conjunto de conferências do qual participou e cujo tema central era a personalidade criativa e modos de sua identificação, os trabalhos apresentam certa imagem de progresso científico e do cientista, da qual tratou de um aspecto: que o cientista básico deve se restringir a fato e conceitos sem que necessariamente concorde com eles, o que permite que sua imaginação trabalhe com probabilidades improváveis (p. 225-6);

3) Adiante, Kuhn afirma que mostrará que o avanço científico depende tanto do pensamento convergente, quando do pensamento divergente, sendo este tão essencial quando o outro (p. 226);

4) Assim, as revoluções científicas representadas pelos exemplos históricos do copernicanismo, darwinismo ou einstainianismo, não são apenas inclusões no desenvolvimento normal da ciência, pois:

Para assimilá-las o cientista deve usualmente rearrumar os equipamentos intelectuais e manipulativos em que ele previamente baseou-se, descartando alguns elementos da crença e prática prévia enquanto encontra novos significados e novas relações entre outros elementos. Porque o antigo deve ser reavaliado e reordenado quando assimila o novo, descoberta e invenção nas ciências são usualmente intrinsecamente revolucionárias (p. 226-7).

5) Deste modo, as revoluções científicas são um de dois aspectos do avanço científico. Sua contraparte, a ciência normal, é a atividade convergente baseada no consenso adquirido da educação científica e reforçado pela vida profissional. Por este motivo, Kuhn trata desta relação como “tensão essencial”, sendo que os cientistas devem apresentar característica tanto do tradicionalista, quando do iconoclasta (p.227).

Um comentário:

Linda Cavalcanti Lobato disse...

Queria que você comentasse mais sobre aquela referência à imaginação do cientista lidando com possibilidades improváveis e sobre aquela ideia de reelaboração do antigo, fazendo surgir o novo. Os dois aspectos me pareceram os mais interessantes do texto que você resenhou. Bjs