sexta-feira, 9 de julho de 2010

Resenha - White, Hayden. Meta-História - Introdução (p. 17-23)

Obra: White, Hayden. Meta-história: a imaginação poética do século XIX. Tradução de José Laurênio de Melo. 2 ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008. Introdução (p. 17-23).

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Introdução: a poética da história

- Livro é uma história da consciência histórica na Europa no século XIX, mas quer contribuir para o problema do conhecimento histórico através da exposição da sua estrutura geral (p. 17);
- A questão do significado do pensar histórico e dos métodos especificamente históricos foi pensado no século XIX por historiadores, filósofos e teóricos sociais, no contexto geral de que era possível atribuir respostas inequívocas. Diferentemente do século XX em que há o receio de que não existam tais repostas definitivas (p. 17).
- Pensadores da Europa continental – de Valéry e Heidegger a Sartre, Lévi-Strauss e Michel Foucault – expressaram dúvidas sobre pensamento especificamente histórico, apresentando o caráter eminentemente fictício das reconstruções históricas e contentando a possibilidade de a história figurar entre as ciências. Já os filósofos anglo-americanos produziram obras sobre a posição epistemológica e a função cultural da reflexão histórica, no entanto, quando tomada em seu conjunto parece contar a favor da ideia de que a história não é uma ciência rigorosa (p.18).
- Citação: “Essas duas linhas de investigação tiveram o efeito de criar a impressão de que a consciência histórica de que se orgulha o homem ocidental desde o início do século XIX talvez não passe de uma base teórica para a posição ideológica a partir da qual a civilização ocidental encara seu relacionamento não só com as culturas e civilizações que a precederam mas também com as que lhe são contemporâneas no tempo e contíguas no espaço” (p. 18). Referência a Foucault, The order of things.
- Tal visão teria a finalidade de fundamentar a superioridade da moderna sociedade industrial (p. 18).
- Em sua análise da imaginação histórica do século XIX, apresenta dois níveis: análise das obras da historiografia europeia e as dos principais filósofos da história do século XIX. Cujo objetivo geral é determinar as características de família das concepções de processo histórico e a justificativa dada pelos filósofos para a reflexão histórica. Para tanto, considera que a atividade histórica é a narrativa, que pretende ser modelo ou ícone de estruturas e processos passados, explicando o que são representado-os (p. 18).
- Outro elemento de sua proposta é que ela é formalista, ou seja, não está comprometida com a avaliação da melhor descrição de certo conjunto determinado de eventos, mas sim com a sua estrutura. Tal procedimento justifica a concentração em historiadores e filósofos, que ainda servem como modelos para conceber a história. Historiadores tais como Michelet, Ranke, Tocqueville e Burckhardt; e filósofos da história como Hegel, Marx, Nietzsche e Croce (p. 19).
- Sua situação como modelos de narração e conceituação histórica depende da natureza procedimental poética de suas perspectivas da história e de seu processo (p. 19-20).
- Cada uma das representações desses autores apresenta concepções alternativas e aparentemente mutuamente exclusivas em relação ao mesmo seguimento da história e das tarefas de reflexão histórica, devido aos diferentes aparatos conceituais usados para explicar os mesmos conjuntos de dados. Deste modo, é preciso identificar a estrutura típico-ideal da obra histórica que fornecerá o critério para determinar aspectos de qualquer obra histórica ou de filosofia da história. Além disso, é possível reconstruir as transformações operadas nestes modos e que formam a impressão explicativa de uma narrativa (p. 20).

A teoria da obra histórica

- Distinção em dois níveis de concepção da obra histórica: crônica, estória, modo de elaboração de enredo, modo de argumentação e modo de implicação ideológica. As duas primeiras remetem a elementos primitivos do relato histórico, caracterizando a seleção e o arranjo de dados extraídos do relato histórico não processado, tornando-os mais compreensíveis a determinado público (p. 21).
- Neste sentido a obra histórica seria a mediação entre o campo histórico, o registro histórico não processado, outros relatos históricos e um público (p.21).
- Primeiramente, os elementos do campo histórico são organizados em uma crônica pelo arranjo dos acontecimentos em determinada ordem temporal; depois a crônica é organizada em uma estória pelo arranjo dos eventos nos componentes de um espetáculo ou processo de acontecimento, cujo começo, meio e fim são discerníveis. Essa transformação da crônica em estória ocorre pela caracterização de alguns eventos da crônica em função de motivos iniciais (porque assim é caracterizado como tal), motivos de transição (suspensão do juízo do leitor até que se forneça motivo conclusivo) e motivos conclusivos (fim ou resolução visível de um processo ou situação de tensão) (p. 21).
- Citação: “Quando um dado conjunto de eventos é posto num código de motivos, o leitor tem diante de si uma estória; a crônica de eventos transforma-se num processo diacrônico concluído, a respeito do qual é possível então fazer perguntas como se se estivesse lidando com uma estrutura sincrônica de relações (p.21).
- Citação: “As estórias históricas constituem as sequencias de eventos que conduzem dos inícios aos términos (provisórios) de processos sociais e culturais, de modo que as crônicas não são obrigadas a fazer. A rigor, as crônicas têm finais em aberto. Em princípio não tem inícios; simplesmente “começam” quando o cronista passa a registrar os eventos. E não tem pontos culminantes nem resoluções; podem continuar indefinidamente. As estórias, porém, têm uma forma discernível (mesmo quando essa forma é a imagem de um estado de caos) que separa os eventos nelas contidos dos outros eventos que poderiam aparecer numa crônica abrangente dos anos cobertos em seus desdobramentos” (p.22).
- Afirma que a diferença apontada entre a estória e a ficção, fazendo entender que a estória está baseada inteiramente na crônica e que o historiador “acha” sua estória enquanto o ficcionista inventa a sua, obscurece a invenção que está implicada na tarefa do historiador, pois o mesmo evento pode ser utilizado em várias estórias diferentes a depender da função que se lhe atribui “numa caracterização motívica específica do conjunto a que ele pertence” (p. 22).
- Citação: “O historiador arranja os eventos da crônica dentro de uma hierarquia de significação ao atribuir aos eventos funções diferentes como elementos da estória, de maneira a revelar a coerência formal de um conjunto completo de eventos como um processo compreensível, com princípio, meio e fim discerníveis” (p. 22).
- O arranjo de eventos selecionados na estória suscita questões tais como: “o que aconteceu depois?”, “como isso aconteceu?”, “por que as coisas aconteceram desse modo e não daquele?”, “em que deu no final tudo isso?”, cujo ponto principal é a relação entre os eventos. Por outro lado, perguntas como: “que significa tudo isso?”, “qual a finalidade disso tudo?” tem a ver com a estrutura do conjunto inteiro de eventos considerando uma estória concluída, reclamando a relação entre dada estória e outras que poderiam ser “achadas”, “identificadas” e “descobertas” pela crônica. Tais perguntas podem ser respondidas de várias maneiras. Chama estas maneiras de explicação de elaboração de enredo, explicação por argumentação e explicação por implicação ideológica (p. 22-3).

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