segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Palestra PAE: Literatura, Cultura e História - implicações para o ensino






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A segunda palestra do PAE foi Literatura, Cultura e História - implicações para o ensino, ministrada pelo Prof. Dr. Daniel Puglia (FFLCH/USP), no dia 11 de novembro de 2010. Seguem os pontos principais da apresentação.
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O Prof. Daniel Puglia apresentou inicialmente a ideia de que a Literatura está intimamente relacionada com a cultura e também com disciplinas específicas. E que, a depender das relações estabelecidas, há restrição do conceito de cultura, que é uma consequência da divisão de trabalho. Por outro lado, os especialistas parecem saber mais sobre cada vez menos, o que tem como marco a passagem do século XIX para o século XXI, que teria transformado o conceito de literatura.
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Até o século XVIII há preocupação com quatro aspectos da Literatura: a) o caráter mimético, b) o caráter didático, c) o caráter expressivo e o d) caráter formal. O primeiro indica certa representação sobre o tempo em que a obra foi escrita; o segundo com o que se pretende com a obra; o terceiro com a expressão do autor e o quarto com a questão estilística. Primeiramente estes aspectos eram estudados em conjunto, mas a partir do capitalismo industrial e do romantismo nos séculos XVIII até XIX percebe-se ênfase no caráter expressivo. E, no século XX, no seu caráter formal.
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Além disso, é possível perceber uma mudança no conceito de literatura, pois ele foi reduzido e utilizado de forma ideológica, abordando especialmente grandes autores e obras (ligação imediata); porém, ao mesmo tempo, o elemento político foi reduzido (literatura de língua inglesa, mas com impactos também para as áreas universitárias, por exemplo, na consideração sobre o que ensinar). Também foi criada a ideia de que a literatura era mais rica que a experiência social e histórica. Há censura como no caso de que não entram nas discussões literárias as questões sobre a vida dos trabalhadores (até 1930 em Oxford e Cambridge, não se estudava Dickens o que só passou a ocorrer em 1950). Outro aspecto importante é que a literatura significa assumir valores que fazem com que se pertença a certa classe social devedora da ideologia burguesa. Não se fazia a separação com outros gêneros, como filosofia, história (havia, por exemplo, o debate de se o romance era literatura e mesmo se Shakespeare era literatura, pois o romance não se encaixava nos conceitos e estava em ascensão e o teatro não era considerado literatura). Mais importante que as categorias, são os assuntos sobre os quais a literatura pode tratar.
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Disto o Prof. Puglia passou para a análise de três pontos em que a literatura pode servir a determinada ideologia:
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1) Aprendizado para o gosto e a sensibilidade: campo definido por concepção de classe. Até o século XVIII há concepção universalista de literatura (oriundo da Igreja, que detinha a exclusividade do ensino), para a concepção burguesa – pertença à classe social. Ideia de cultura próxima a do vinho, no sentido de que também é cultivada por certa classe social. Tal comprometimento de classe leva a que algumas obras não sejam consideradas literatura, especialmente aquelas que falam do real. Apresenta-se uma crise no ensino da literatura, baseada na ideia de que não se pode aprender com a cultura, sendo o gênio individual mais importante que a construção social.
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2) Criação da superioridade da escrita imaginativa sobre as demais: consideração de que a imaginação é superior aos demais campos. Reação aos horrores do capitalismo industrial, fazendo com que a poesia tenha mais realidade que o mundo. Além disso, as pessoas são transformadas em mercadoria. Interessante notar que a Revolução Industrial em primeiro lugar mecanizou o processo de produção do algodão e depois passou para os livros. Assim, a arte e a literatura seriam guardiãs dos valores humanos. Existe uma lógica por trás, que está relacionada ao fato de que a burguesia começou como uma classe revolucionária e que queria propagar as qualidades humanas. No entanto, depois que consegue o poder político e econômico as qualidades humanas passam a ser preservadas.
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3) Criação da ideia de tradição na literatura: representação de nação e de nacionalidade para a literatura. Exclusões de certos autores, sendo o ponto comum a referência que fazem à história real e de seu país. Exemplo: Machado de Assis – redução da literatura à história é considerada problemática. Ao longo do século XX há fortalecimento destas tendências. Abandono do caráter mimético, didático, com ênfase na voz que fala.
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Finalmente, Prof. Puglia aponta como propostas o retorno dos quatro aspectos (mimético, didático, expressivo e formal). Além disso, que seja feita análise dialética das obras literárias, proposta esta de Aristóteles, sendo que em seu aspecto atual se mostra como descoberta de certa ideologia.
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Bibliografia Indicada:
EAGLETON, T. Teoria da literatura. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

Um comentário:

Pres. David Naylor disse...

Você anunciou seu objetivo como o de registro da palestra. Eu, contudo, gostaria de saber da sua avaliação crítica sobre o conteúdo dela. Faz sentido a retomada dos quatro aspectos de estudo da literatura, não apenas como proposta alternativa, mas como sistemática superior à apenas expressiva ou apenas formalista? Com que noção de ideologia você pensa que o palestrante estava lidando? Seria a marxista? Dickens, Hugo, Zola, Dostoievski não teriam, ao contrário, contribuído para a criação de uma sensibilidade artístico-literária para os temas da desigualdade, da pobreza, da exclusão e da indiferença? Gostaria de saber a sua opinião a respeito.